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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Investimentos em Manaus voltam a crescer.


Os investimentos na Zona Franca de Manaus (ZFM) voltaram a crescer em 2013 após uma queda de 5,34% em 2012 ante 2011, de acordo com dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

Até agosto deste ano, já foram injetados US$ 10,4 bilhões no local, valor 3,62% superior aos US$ 10,1 bilhões investidos ao longo de todo o ano de 2012. Já em 2011, a ZFM recebeu aplicações de US$ 10,6 bilhões.

Uma das empresas que ajudaram a alavancar os números foi a chinesa Lenovo, uma das maiores fabricantes de computadores pessoais (PCs) do mundo. A companhia anunciou investimentos no país no ano passado e a operação foi concluída em janeiro deste ano com a compra da brasileira CCE.

Dentro do negócio estão três fábricas de televisores, celulares, notebooks, desktops e tablets na Zona Franca. As unidades montam os equipamentos, mas também há uma fábrica de placas no pacote.



A presença da CCE na Zona Franca foi um fator preponderante no negócio. "Para ser competitivo aqui, precisa fabricar no Brasil. E, para alguns produtos, é condição essencial produzir em Manaus" disse ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, o diretor de operações da Lenovo, Paulo Renato Fernandes.
"Os incentivos fiscais que existem para TV, por exemplo, só tem em Manaus. Então qualquer fabricante de TV tem que estar instalado em Manaus", acrescentou o executivo.

Levantamento da Superintendência da Zona Franca de Manaus, feito a pedido doValor Pro, mostra que os investimentos líquidos estrangeiros nas empresas no Polo Industrial de Manaus somaram US$ 7,1 bilhões no ano passado (último dado disponível), uma alta de 23,96% ante os US$ 5,7 bilhões apurados em 2011.

Segundo o levantamento, as companhias japonesas estão em primeiro lugar no ranking dos estrangeiros que mais investiram na ZFM (US$ 2,6 bilhões) no ano passado. Em seguida vem as empresas da Coreia do Sul (US$ 1,1 bilhão em 2012) e as dos Estados Unidos (US$ 891 milhões). As empresas chinesas aparecem em 25° lugar nesta listagem, com US$ 15 milhões aplicados. Esse desempenho deve mudar em 2013, já que a aquisição da CCE custou cerca de US$ 300 milhões. (LM e ES).

Fonte: Valor Pro

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Desenvolvimentistas e Monetaristas - Entendendo um pouco a guerra dialética entre os economistas.



Após a década de 1990, as ideias desenvolvimentistas parecem ter tomado novamente os espaços perdidos desde então. E para entender melhor esse debate crítico é preciso entender sobre as duas correntes que se digladiam.

Em primeiro lugar estão os MONETARISTAS, para estes, a meta principal é o controle da inflação. Se esta encontrar-se baixa e estável, e somado a isso houver respeito aos contratos e instituições, o desenvolvimento virá espontaneamente. Já para os DESENVOLVIMENTISTAS, a inflação sob controle não representa o todo, mas apenas um dos diversos requisitos para o crescimento e o desenvolvimento econômicos.

Para o grupo dos ortodoxos monetaristas, o desenvolvimento econômico tende a um processo natural que depende basicamente de boas políticas internas, como: governo frugal que não tribute demais, bom funcionamento da justiça, saúde, educação, setores básicos e fundamentais, além da defesa da concorrência. Se essas politicas forem adotadas, o desenvolvimento ocorrerá naturalmente.

Já para o grupo dos heterodoxos desenvolvimentistas, o processo de desenvolvimento econômico ocorre num contexto de forte conflito entre nações, especificamente no que tange a domínio de técnicas produtivas e capacidade de inovação. Para eles, ser desenvolvido significa dominar tecnologias avançadas de produção e criar capacidade e competências locais. A capacidade da economia deixa de ser algo que depende do individuo, como na visão ortodoxa, e passa a ser algo sistêmico.

Se para os heterodoxos desenvolvimentistas domar a inflação não é o bastante para se tornar um país rico, então o que de fato produz o desenvolvimento? A grosso modo: a capacidade local de utilização, geração e produção de tecnologias.

Um nível elevado de produtividade só poderá ser alcançado a partir da sofisticação do meio produtivo de uma economia, e esse resultado, para um economista desenvolvimentista, não ocorre de maneira natural devido a enorme competição existente no mercado mundial. Os mercados pioneiros ou first movers de países ricos têm vantagens enormes sobre seus concorrentes emergentes no que diz respeito a domínio de mercados.

Para o desenvolvimentista não existe objetivo de maior do que criar uma indústria local competente, capaz de produzir para o mercado mundial com alta excelência tecnológica. Como esses campeões locais não surgem naturalmente, o governo deve ajudar com subsídios, financiamentos etc., até que a empresa atinja sua escala e força ideal para competição no mercado local e mundial.

No Brasil temos casos interessantes de empresas  e setores que começaram públicos e depois foram desenvolvidos e ampliados pela iniciativa privada, podemos citar nesse caso a EMBRAER e anterior a ela o Proálcool.

É evidente que não há nenhuma garantia de sucesso, sobretudo quando exemplificamos os insucessos ligados a famigerada e ridícula CORRUPÇÃO, mas muitos dos gigantes asiáticos de hoje surgiram de estratégias desse tipo. Politicas de direcionamento estatal somada a uma competentíssima e eficiente iniciativa privada. Dada a nossa atual conjuntura macro, podemos dizer que duas cadeias estão na crista da onda: Construção civil e óleo e gás, no caso desta ultima, é evidente o interesse do atual governo e quiçá do próximo em desenvolver capacidades locais de produção. Aqui nós já começamos a privatizar a CIGÁS.


Portanto o papel do estado nesse contexto de desenvolvimento econômico é fundamental – para o bem ou para o mal.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Será o fim do milagre chinês?


Por Josef Joffe - The Wall Street Journal

A história mostra que todo milagre econômico acaba perdendo a magia. Por quanto tempo a China poderá sustentar esse crescimento impressionante?
A grande questão do século XX não desapareceu no século XXI: Quem está do lado certo da história? É a democracia liberal, do poder vindo de baixo para cima, protegida pelos mercados, o Estado de Direito, a responsabilidade e a separação dos poderes? Ou é o centralismo despótico que passou por Hitler e Stalin e acabou adaptado, numa versão menos cruel, pelo atual modelo chinês, de um capitalismo estatal regido por um único partido?
A morte do comunismo não eliminou a grande questão. Simplesmente a fez repousar por duas décadas. Agora, a ascensão espetacular da China e as crises nas economias democráticas — bolhas e estouros, gastos exagerados e dívidas astronômicas — trouxeram à tona o que parecia enterrado com segurança num cemitério chamado "O fim da história". Agora, os mortos estão levantando de suas covas. E muitos no Ocidente estão perguntando: Será que o capitalismo de cima para baixo, como o praticado no passado pelos "dragões" asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan e Japão) e hoje pela China, não é o melhor caminho para a riqueza global do que a confusa e autoparalisante democracia liberal?
Aqueles que acreditam na "ascensão do resto" [das economias] pensam que amanhã será uma repetição de ontem — que a China continuará subindo. Mas a história nos ensina a ter cautela. O crescimento rápido caracterizou cada "milagre econômico" do passado. Começou com a Grã Bretanha, os Estados Unidos e a Alemanha no século XIX e continuou com o Japão, Taiwan, Coreia do Sul e a Alemanha Ocidental depois da Segunda Guerra Mundial. Mas nenhum desses países conseguiu sustentar o ritmo das primeiras décadas de crescimento e todos acabaram desacelerando, voltando a taxas [de crescimento] "normais", à medida que a exuberância da juventude deu lugar à maturidade. O que é "normal"? Para os EUA, a média nas três décadas antes da crise de 2008 foi bem acima de 3%. Para a Alemanha foi de 3% para menos de 2%. O Japão caiu de 4,5% para 1,2%.
O efeito do nivelamento também se aplica às economias industrializadas que emergiram de uma fase de recuperação acelerada após uma guerra e destruição, como ocorreu no Japão e na Alemanha Ocidental depois da Segunda Guerra. Nos dois casos, o padrão é o mesmo. Pense num avião que decola e depois se ajusta a uma posição horizontal em sua rota normal de voo.Tudo que sobe, cai e se nivela à medida que países progridem da agricultura para a manufatura e daí para uma economia de serviços e conhecimento. No processo, os campos se esvaziam e deixam de oferecer o que antes parecia ser um reservatório infinito de mão de obra barata. À medida que os investimentos fixos crescem, seus retornos declinam e cada unidade de capital gera menos retorno que a anterior. Esta é uma das leis econômicas mais antigas: a lei da redução dos retornos.
Só uma análise retrospectiva revela o que aconteceu. Em meados dos anos 70, o crescimento do Japão foi de 8% para abaixo de zero no espaço de dois anos. A Coreia do Sul, outro prodígio dos anos 70, foi de um crescimento de 12% para uma retração de 1,5%. Quando a Revolução Cultural se espalhou pela China na mesma década, o crescimento despencou do nível histórico de 19% para abaixo de zero. A história recente da China ilustra de forma perfeita o papel dos choques "exógenos", cujas consequências são muito piores do que aquelas causadas por períodos de baixas cíclicas. Depois da guerra, tumultos domésticos são responsáveis pelas rupturas mais brutais no crescimento. Nos dois primeiros anos da Revolução Cultural, a taxa de crescimento da China encolheu em oito e sete pontos percentuais, respectivamente. Após o massacre da Praça de Tiananmen, em 1989, a taxa de crescimento do país caiu em dois dígitos, para 2,5%, por dois anos consecutivos.
A Revolução Cultural e o massacre de Tiananmen representam uma maldição que pode voltar a ameaçar a China no futuro: quanto mais forte for o controle do Estado, mais vulnerável fica a economia a choques políticos.
Hoje o mundo está hipnotizado pelo crescimento extraordinário da China. Mas não há razão para crer que a China desafiaria o veredicto da história econômica eternamente. Nenhum outro país escapou dessa história desde que Revolução Industrial abriu as portas para a expansão espetacular do Ocidente na metade do século XIX.
O que está por trás do entusiasmo excessivo pela China? Intelectuais do Ocidente de todas as linhas já tiveram um certo fascínio por grandes líderes. Pense na adulação de Jean-Paul Sartre por Stalin.
Hoje, aqueles que acreditam no declínio do Ocidente sucumbem a uma tentação semelhante. Eles estudam as crises vividas no mundo capitalista e olham para o milagre de 30 anos da China. Então, concluem mais uma vez que a supremacia do Estado, especialmente quando respaldada pelos mercados e por lucros, pode ser melhor do que a democracia liberal.
O poder faz gerar crescimento inicialmente, mas no longo prazo ele falha. Economias lideradas de cima para baixo são bem sucedidas no começo, mas fracassam depois, como o modelo soviético provou. Ou elas sequer chegam ao ponto de decolagem, como uma longa lista de imitadores demonstra, de Gamal Abdel Nasser, no Egito, a Fidel Castro, em Cuba. Nem mesmo os caudilhos populistas do século XXI têm se dado melhor, como ilustram a Argentina, o Equador e a Venezuela.
A modernização autoritária ou "guiada" planta as sementes de seu próprio fracasso. O sistema move montanhas quando jovem, mas acaba se tornando impenetrável e paralisado. Ele dá poder àqueles com interesses próprios que, como mostra a história, primeiro ignoram e depois resistem a mudanças porque elas significam uma ameaça mortal ao status e à renda que possuem.
A história não indica um bom presságio para a modernização autoritária, seja na forma do capitalismo "controlado", "guiado" ou do Estado. O sistema congela ou se torna seu próprio inimigo, passando a devorar as sementes do crescimento espetacular e finalmente produzindo estagnação. Ou o país segue o caminho escolhido pelo Ocidente, no qual a primeira onda de crescimento espalha a riqueza, depois surge uma classe média, depois a democratização como o Estado do bem-estar social e a desaceleração do crescimento. Esse foi o caminho seguido por Taiwan e pela Coreia do Sul — as versões orientais da Ocidentalização.
A ironia é que tanto o despotismo quanto a democracia, por razões bem diferentes, são incompatíveis com um crescimento estonteante no longo prazo. Até agora a China tem conseguido enriquecer sem uma desaceleração ou revolta — um milagre político sem precedentes. Mas será que a China pode continuar nesse caminho? O veredicto da história não é encorajador.

A história mostra que tudo que sobe, desce. A China não deverá escapar!!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

MAIS PLANEJAMENTO, MENOS UTOPIA – UM CASO RUSSO DE SUCESSO.



País Rússia, o ano era 2005, o sonho – ser campeão mundial de futebol de praia, título que o Brasil já conquistou mais de 10 vezes. Para muitos, motivo de piada, para o engenheiro espacial russo Sergey Nechaev, algo possível desde que houvesse organização e planejamento de longo prazo.

Em seis anos, uma ideia que parecia utopia, se tornava algo concreto. No primeiro campeonato eram seis clubes, este ano somaram-se trezentos clubes, e a surpreendente conquista de três títulos sobre o Brasil: Copa do Mundo de Futebol de Areia da FIFA (2011), e duas edições da Copa Intercontinental (2011 e 2012). Num país onde há apenas três meses de verão e o restante de tempo, um inverno nevado e rigoroso, e onde não há sequer areia nas pouquíssimas e gélidas praias russas, mas apenas pedras. Obstáculos? Sim, mas que foram vencidos com criatividade, ousadia, e acima de tudo planejamento e organização.

Em artigo publicado, comentei sobre o diferencial que o Amazonas possui em relação as demais regiões, sua biodiversidade e o enorme desafio da inserção efetiva de toda essa biodiversidade no contexto de Ciência, Tecnologia e Inovação, objetivando trabalhar principalmente sobre nossa vocação latente e abundante, para transformar conhecimentos novos em resultados sustentáveis e duradouros, e quiçá no futuro ser independente das benesses fiscais do executivo.

E qual a relação desse caso russo com a realidade de nosso Estado? Toda, pois de um lado encontra-se um exemplo de planejamento e organização, e do outro lado a falta de ambos. Temos vários problemas, e todos eles necessitam de planejamento e organização para serem corrigidos, mas quero me ater a um deles, a Educação, e sendo mais específico, a educação superior.

A educação superior atualmente urge mais do que uma ferramenta de construção, ela é, além disso, um dos principais pilares que formam a base para o planejamento do futuro econômico do Amazonas.

Constrange-nos saber que temos apenas duas universidades públicas, uma federal e a mais antiga do país e outra estadual que abrange um terço dos municípios, para um estado como o Amazonas que é a sexta economia do país e contribui com 1,25% do PIB nacional e com uma população de 3,8 milhões de habitantes.

Sem a educação como pilar fundamental não há desenvolvimento, e sem desenvolvimento não há sustentação econômica. A Zona Franca de Manaus foi concebida como um modelo de irradiação de desenvolvimento e ocupação equilibrada e sustentável, e por isso é inadiável rever os recursos destinados para esses fins, e nesse ponto de vista é incabível qualquer desculpa para não haver uma educação superior de maior qualidade para nossos jovens e profissionais. Além disso, a Amazônia carece de estudos e pesquisas que possam promover o conhecimento mais abrangente e aprofundado de sua riquíssima biodiversidade. Por isso a necessidade do desenvolvimento intelectual de uma das regiões mais isoladas do País.

Por isso a sugestão da criação de uma nova universidade federal para o Amazonas. Temos a necessidade de ampliar o ensino e a pesquisa no Amazonas, dar mais oportunidade aos jovens, buscando impulsionar o desenvolvimento social e econômico da região.

Enquanto Minas Gerais possui 11 Universidades, Rio Grande do Sul 07, Bahia 05 universidades, e o Pará com 04 universidades, o Amazonas possui apenas 01 universidade federal.


Além do PIM, temos a implantação do polo naval, a possibilidade de um polo de mineração, além de uma região com incrível potencial fitoterápico, ou seja, temos uma diversidade de oportunidades, mas sem o devido planejamento e organização, com base na educação de qualidade e excelência, todo o processo de desenvolvimento de nossa região e todos os recursos investidos estarão comprometidos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A armadilha da desigualdade



Por Octávio Motta Ferraz e Diogo R. Coutinho
No Brasil, em larga medida, os pobres são pobres porque os ricos são ricos. Vivemos enredados no que o economista indiano Vijayendra Rao chamou de "armadilha da desigualdade": a cristalização da desigualdade nas instituições, nas leis, nas políticas públicas e na vida social do país, reproduzindo-se em suas várias dimensões (renda, riqueza, oportunidades, poder e status social) e favorecendo os mais ricos em prejuízo dos mais pobres.
São exemplos dessa armadilha os traços regressivos (isto é, pró-ricos) dos nossos sistemas tributário, previdenciário, de saúde, de moradia e educacional. Enquanto os ricos na Suécia, na Alemanha e Japão chegam a pagar quase ou mais da metade de seus ganhos em imposto de renda, no Brasil a alíquota mais alta é de apenas 27,5%. Para piorar, o IR tem aqui seu potencial redistributivo mitigado pelas deduções obtidas pelas classes mais favorecidas em despesas médicas e educacionais privadas e pela facilidade com que escapam desse imposto com medidas legalmente válidas, como a criação de empresas ou mediante simples sonegação. Não bastasse isso, parcela significativa dos tributos cobrados no país (60%) sobrecarrega injustamente os mais pobres porque incide sobre o consumo, com percentuais idênticos para todos. Como os pobres gastam parte maior de sua renda (quando não toda ela) em consumo, pagam proporcionalmente mais impostos desse tipo que os ricos.
Nosso sistema previdenciário também é altamente regressivo, favorecendo desproporcionalmente os funcionários públicos de alto escalão do Executivo, Legislativo e Judiciário. Esses grupos, que já recebem bons salários durante a carreira, continuarão a ter direito a aposentadorias integrais (ou quase) até que o regime de previdência complementar instituído pela reforma constitucional entre em vigor, o que já tarda mais de 10 anos. O resto da população, incluindo-se aqui os mais pobres, aposenta-se sob o regime geral da previdência social (RGPS), ganha em sua maioria um salário mínimo ou sequer tem acesso à previdência por trabalhar no setor informal.
A desigualdade medida pelo Gini não é muito adequada para revelar a verdadeira distribuição da renda no Brasil
No campo da educação, nossas escolas públicas padecem de recursos humanos e materiais adequados, o que nos é tristemente lembrado pela péssima atuação do Brasil em testes internacionais, como o Pisa. Como consequência, o ensino superior público, a despeito dos recentes avanços observados, é praticamente reservado aos estudantes cujas famílias podem pagar escolas privadas.
Na saúde, para os 80% da população que dependem do SUS o gasto per capita é quase dez vezes menor que o gasto dos 20% que têm acesso à saúde privada. Não surpreende, portanto, que nossos indicadores de saúde como mortalidade infantil e expectativa de vida estejam próximos aos dos países mais desenvolvidos do mundo para os mais ricos, enquanto para os mais pobres se aproximem dos patamares de países pobres da África.
Essas discrepâncias têm como determinantes não só a desigualdade de acesso a serviços de saúde de qualidade, mas também à educação, à moradia adequada, incluindo saneamento básico, que ainda é inexistente ou inadequado em mais de 30% dos domicílios brasileiros (cf. Censo do IBGE 2010). Já as cidades brasileiras têm sua configuração espacial, de transportes, lazer e cultura voltada para facilitar a vida dos ricos, deixando os bairros mais pobres desprovidos dos mais básicos equipamentos públicos. Igualmente mitigado nas políticas urbanas é o componente progressivo do IPTU, o que torna letra morta a função social da propriedade garantida pela Constituição.
São essas práticas, leis, instituições e políticas públicas que precisam sofrer mudanças estruturais para que a armadilha da desigualdade seja desarmada. E é por isso que a queda da desigualdade de renda a que assistimos no Brasil na última década - celebrada pelo governo, institutos de pesquisa e por grande parte da mídia nacional e internacional - deve ser comemorada, mas sem exagero.
Segundo dados do Ipea, entre 2000 e 2010 a desigualdade diminuiu em 80% dos municípios brasileiros, pois a renda dos 20% mais pobres cresceu 217%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu 60%, algo sem dúvida positivo. Dados da mais recente Pnad do IBGE confirmam essa tendência, tendo a desigualdade alcançado o seu patamar mais baixo da história recente em janeiro de 2012 (Gini de 0,519).
Mas esse nível de desigualdade, além de ainda muito alto (continuamos entre os países mais desiguais do mundo), leva em consideração principalmente os rendimentos do trabalho formal e transferências públicas, deixando de fora, por limitações de dados, a maior parte dos rendimentos do capital (cerca de 80% do rendimento dos ricos). A desigualdade medida pelo Gini não é, portanto, inteiramente adequada para revelar a verdadeira distribuição da renda entre trabalhadores formais e informais, de um lado, e empresários, banqueiros, latifundiários, proprietários de bens e de imóveis alugados, de outro. A recente tendência de declínio da desigualdade, apesar de inédita e auspiciosa, é em face disso, ainda muito tímida e não se apoia no ataque efetivo a nenhum dos principais gargalos da armadilha da desigualdade acima apontados.
São apenas essas reformas, ou seja, a criação de um verdadeiro Estado de Bem-Estar social, com leis, instituições e políticas públicas que minimizem - em vez de sedimentar - as desigualdades existentes é que poderão tornar o Brasil um país realmente igualitário e livre das mazelas sociais que a desigualdade produz, como a violência, a falta de coesão social e os limites para o crescimento econômico sustentável.
Num período em que a maior parte do mundo desenvolvido apresenta uma tendência oposta, de aumento das desigualdades (como mostra o mais recente relatório da OCDE (Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising), e o termo "brazilianization" é frequentemente usado para se referir a esse fenômeno, seria uma ironia histórica edificante se pudéssemos nos tornar um exemplo de ações estruturais para promover a igualdade.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A INTERIORIZAÇÃO DA ZFM E A REGIÃO METROPOLITANA DE MANAUS



A Zona Franca de Manaus, criada em 1967 teve como seu objetivo inicial inserir no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário que viabilizasse o seu desenvolvimento e seu povoamento em função da necessidade de uma base estratégica para o país na região, isto tudo iniciado em 06/06/1957. Após 56 anos de sua concepção, e 46 anos de implantação, o modelo ainda não atingiu seu intento de espraiar o desenvolvimento ao interior, e recebe mais do que nunca críticas pelo restante do país, mesmo mantendo de pé mais de 90% de suas florestas intactas, além de repassar gordas arrecadações federais.

Em 24/10/2011, durante o ato da inauguração da Ponte Rio Negro, boas novas foram entregues junto com a ponte pela Presidenta Dilma: a prorrogação da ZFM por mais 50 ano e a extensão de seus benefícios à (RMM). Mas fica a pergunta, como a região está preparada para acolher empreendimentos para a concessão desses incentivos? Qual a estrutura atual?

Muitas restrições ainda são visíveis nessa região com mais de 101.475 km², cerca de 2,1 milhões de habitantes onde Manaus concentra 85%. Com PIB mais de R$ 51 milhões, enquanto os municípios de Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva, vivem num longo vazio econômico.


Com municípios distantes entre si e uma ausência grave de infraestrutura: energia elétrica instável, internet banda larga só no nome, aeroportos deficientes, saídas por terra, e pasmem, portos desestruturados, que são alicerce para o principal modal de transportes de nossa região, o fluvial.

Penso que além da necessidade de aprovar tal projeto, há outras necessidades que urgem, além disso. Não se pode colocar a carroça na frente dos bois, precisamos paralelamente discutir mais o modelo antes de ampliá-lo e estendê-lo, e como ele poderá funcionar na (RMM) e dentro dessas discussões implantarmos algo concreto e acima de tudo planejado. Não podemos mais crescer desordenadamente, o desenvolvimento regional ou local depende da conciliação das políticas do Estado com os objetivos locais e seus potenciais naturais, e o planejamento estratégico para a implantação dos alicerces necessários para essa extensão.

A solução dos problemas regionais e, por conseguinte, a melhoria da qualidade de vida, demanda o fortalecimento da sociedade e das instituições locais, pois são estas que transformarão o impulso externo de crescimento em desenvolvimento. Esse fortalecimento envolve capacitação técnica e profissional dos recursos humanos disponíveis, melhoria nos serviços públicos disponibilizados. A internet, por exemplo, dá suporte a diversos tipos destes serviços públicos, mas ainda carece de profundas melhorias no interior.

Se o gargalo é infraestrutura, estrutura funcional e sistêmica dos serviços básicos, outro problema é a falta de profissionais qualificados decorrente, sobretudo do distanciamento entre a academia e o setor produtivo, precisamos aproximar mais as linhas de pesquisa às demandas do setor produtivo local.

O que pode ser feito em cada município? Qual a vocação produtiva e o que poderá ser priorizado em cada localidade, dentro de uma proposta de desenvolvimento regional?

Banco remoto já predomina


Por Felipe Marques e Gustavo Brigatto
Boa parte dos correntistas nem percebeu que agências bancárias ficaram total ou parcialmente fechadas durante quase um mês por causa da greve dos bancários, que terminou na sexta-feira. E isso porque atualmente já é maior o número de transações bancárias feitas por acesso remoto (incluindo internet banking e celular) do que as realizadas nas agências e caixas eletrônicos.

De 2006 a 2012, o número de transações feitas por internet banking e celular passou de 5,1 bilhões para 13,9 bilhões por ano, segundo o Banco Central.

O avanço impressiona, mas os canais eletrônicos ainda têm muito espaço para crescer. No Bradesco, por exemplo, cerca de 5,5 milhões de correntistas fazem transações no internet banking da instituição, de um total de 24 milhões de clientes, afirma Domingos Figueiredo de Abreu, vice-presidente executivo do banco.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Nós e o mundo


Por Antonio Delfim Netto

Na organização da economia mundial, os países estão ligados pelos fatos e pelas expectativas que se formam dentro de cada um deles e pela intercomunicação que se estabelece entre eles. Nenhum é uma ilha. Numa razão maior ou menor, todos dependem de todos. Fundamentalmente, cada um é vítima ou beneficiário de sua organização política, da qualidade de suas instituições e da capacidade de liderança do poder incumbente de confirmar a confiança da sociedade e mobilizá-la para a consecução dos objetivos que ela mesmo estabeleceu.
A taxa de desenvolvimento econômico de um país pode ser vista como a soma de três componentes: 1) a resultante do seu próprio esforço interno e da qualidade da sua política econômica; 2) os efeitos de sua interação com o mundo, no que tange às ligações financeiras (movimento de capitais) e de comércio (exportação e importação), que dependem, por sua vez, do esforço interno e da qualidade da política econômica dos seus parceiros internacionais; e 3) de "choques" globais que afetam simultaneamente todos os países, ainda que cada um à sua moda. É isso que explica o nível da "covariação" entre as taxas de crescimento dos vários países.
Em setembro último, comemorou-se o quinto ano desde a enorme barbeiragem das autoridades monetárias americanas e inglesas, que foram atropeladas por sua incompetência em organizar a saída do Lehman Brothers do mercado. Finalmente parece que a justiça (não apenas com multas, mas a privação de liberdade) começa a bater nas portas dos que foram diretamente responsáveis pela destruição, nos últimos cinco anos, de cerca de 2/3 do PIB mundial de um ano e pelo desemprego de mais de 40 milhões de pessoas, que viviam honestamente do seu trabalho, enquanto eles continuaram a acumular formidáveis patrimônios.
A recessão iniciada em 2008 foi muito profunda e a recuperação lenta, como se vê no gráfico abaixo. As medidas monetária e fiscal foram insuficientes e mal coordenadas, não apenas por dificuldades políticas (o desarranjo institucional americano e a falta de arranjo institucional da Europa), mas também porque - como disse Ben Bernanke, o "chairman" do Fed - estávamos sem bússola numa noite escura num mar revolto nunca dantes navegado...

Os sinais de recuperação das economias desenvolvidas são tênues, modestos e, em certa medida, contraditórios. Lentamente, eles tomam fôlego. Por outro lado as emergentes, que foram o suporte do crescimento global, parecem imergir, iniciando um ciclo de menor crescimento, como se vê na tabela. O Brasil talvez tenha antecipado o ciclo, pelos efeitos da segunda componente mencionada acima, além de problemas próprios, como a queda de confiança do setor privado e a lentidão com que estamos aprendendo a fazer concessões eficientes de infraestrutura.
A verdade é que temos respondido frouxamente a algumas reformas absolutamente necessárias, como a radical simplificação do sistema tributário, o enfrentamento do problema previdenciário e a redução do dramático aumento das incertezas produzidas, por exemplo, pela ação discricionária do Tribunal Superior do Trabalho com suas súmulas vinculantes, e pelas decisões duvidosas e arbitrárias tomadas pelo Fisco.
É a falta de fortes e decididas iniciativas do Executivo e do Legislativo, para tentar resolver tais problemas, que aumenta as incertezas sobre o futuro, que põe na geladeira o "espírito animal" do empresário e retarda as suas decisões de investir. Mesmo quando o corporativismo e interesses menores controlam o Congresso, é a pressão do Executivo, forçando a discussão das reformas e ampliando o espaço da racionalidade, que mobiliza a sociedade para ajudá-lo a superar a resistência oportunística, cuja essência é o curto-prazismo.
Seguramente, não é o presente desconforto com relação às políticas monetária e fiscal que preocupa os potenciais investidores estrangeiros, ou as agências de risco, que, apesar de terem perdido credibilidade, ainda influem na determinação do "risco Brasil" e no aumento da taxa de juros (à qual pode somar-se o efeito da mudança da política monetária americana) e no custo da dívida pública. O que importa é o temor que a aparente pouca importância dada às reformas acabará por tornar a dívida insustentável, se persistirem o baixo crescimento do PIB e a redução sistemática do superávit primário.

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ciência, Tecnologia e Inovação: Necessidade de um novo marco regulatório para o desenvolvimento.


Por José Ricardo Wendling

O tema desenvolvimento tecnológico e inovação não é novidade, mas nos anos recentes entrou definitivamente como pauta importante e com peso relevante nas agendas governamentais, nas mídias e nas empresas, ratificando que todos esses segmentos compreenderam a importância da Ciência e Tecnologia.

A inovação têm-se destacado como grande força de propulsão e renovação da maioria das empresas, e inevitavelmente, do crescimento sustentável das nações. Pelo simples fato de fazer diferente, gera reconhecimento por todos como posição de destaque a todos stakeholders e, sobretudo para a sociedade, gerando consequentemente valor econômico para as organizações.

O Brasil e, especificamente o Amazonas, têm um diferencial oportuno em comparação com demais regiões. É ao mesmo tempo o País da etnodiversidade e o Estado da biodiversidade. Por outro lado, ambos: País e Estado têm um enorme desafio, que consiste na inserção efetiva de toda essa etnodiversidade e biodiversidade no contexto da inovação e tecnologia. Um dado revelador: Em nosso país menos de 27% dos cientistas atualmente trabalha em projetos ligados a empresas, já nos EUA, país que viu nascerem grandes empresas, 80% dos pesquisadores são inseridos em trabalhos empresariais. Há quem diga que os cientistas brasileiros são exímios transformadores de recursos em conhecimento, mas falhos e ainda limitados em transformar esses conhecimentos em dinheiro. Na Coréia do Sul, que acelerou esse crescimento, este mesmo número é de 77%. No Amazonas o contraste é diferente, ainda carecemos e muito de doutores formados em nossa região e cientistas fixados e comprometidos com o desenvolvimento científico de nossos potenciais naturais.

Para ter-se uma ideia, de acordo com o CNPq numa pesquisa feita em 2008 com todos os doutores brasileiros formados entre 1996 e 2006, praticamente 80 mil deles estavam no Brasil, 97% empregados, onde: 80% atuavam no setor educacional, outros 11% estavam no setor público e menos de 6% nas empresas. Nos EUA a proporção é de 40% de doutores na indústria. Nesse mesmo país, um projeto entre uma empresa e uma universidade não passa pelo governo, tem que ser executado dentro dos tramites oficiais, porém não existe controle governamental sobre o que a indústria pode ou não fazer com a universidade. Por exemplo: se uma fundação resolve repassar US$ 20 milhões para uma pesquisa em setor da área espacial, várias universidades irão apresentar projetos para esta fundação e entrar numa grande concorrência, não é uma competição fácil, porém é completamente desligada do governo.

Para que isso gere um efeito positivo, precisamos transformar os conhecimentos novos em resultados sustentáveis. O Amazonas passou muito tempo com propostas de crescimento sustentável, e hoje estamos correndo, ansiosos, para requerer os direitos de uma vocação adquirida ao invés de termos trabalhado com antecedência em nossa vocação latente e abundante que é nossa biodiversidade, fonte para o desenvolvimento sustentável.

O Amazonas possui um cenário empreendedor interessante que nos coloca como região de destaque no mundo. Mas, esse destaque está mais ligado ao tamanho da população e região empreendedora do que pelo planejamento empreendedor. Infelizmente, por aqui essa atividade ainda acontece mais num sentido da necessidade e não da oportunidade, e com muito pouco conteúdo inovador. Estamos mais adeptos ao made in Amazonas do que ao created in Amazonas. Os dados do PINTEC, coletados pelo IBGE falam por si: A porcentagem total de investimentos privados em PD&I no Brasil é de 0,55% do PIB, contra 1,87% nos EUA e 2,45% na Coreia do Sul.

É importante pensar que nosso estado não é composto apenas por árvores, mas pelos quase quatro milhões de amazônidas. Qualquer estratégia de defesa do Amazonas, e da própria Amazônia como um todo será precária se não estiver fundada num projeto econômico consistente.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Honda inaugura novo centro de tecnologia em Manaus (AM)


A Moto Honda da Amazônia inaugura um novo e moderno Centro de Desenvolvimento e Tecnologia (CDT), em Manaus (AM). A estrutura, que contou o investimento de R$ 20 milhões, possui uma área de 4.200 m² e deve abrigar em torno de 200 dos aproximadamente 10 mil funcionários da Honda em Manaus.
O CDT é um verdadeiro polo de desenvolvimento multidisciplinar com integração total entre todos os departamentos responsáveis pelas atividades relacionadas ao desenvolvimento de novas técnicas, processos e produtos Honda.
O início das atividades do CDT representa também um marco para a empresa, uma vez que se inicia a implantação de uma nova e moderna forma de trabalho, fundamentada no conceito “One Floor”. Já utilizado pela matriz japonesa, o conceito prevê maior proximidade das áreas envolvidas nas operações industriais com objetivo de acelerar os processos de tomada de decisão e, com isso, ganhar em agilidade e competitividade.
A partir deste conceito serão reunidas em um mesmo ambiente todas as áreas envolvidas no desenvolvimento de novos produtos e que hoje já atuam com a metodologia EDB – onde as áreas de Pesquisa & Desenvolvimento, Engenharia & Manufatura, e Compras trabalham em sinergia desde a concepção, desenvolvimento e validação do produto até sua manufatura, de modo a acelerar os processos de tomada de decisão e a obtenção de resultados.
Para colocar estes conceitos em prática, foi preciso estabelecer e desenvolver estruturas avançadas com equipamentos de alta tecnologia, idealizados para o completo suporte técnico às atividades de desenvolvimento de produtos e treinamento para os funcionários.
A equipe de engenheiros e técnicos da empresa tem sido capacitada através de treinamentos e intercâmbios no Brasil e no exterior. Foi firmado ainda com um convênio de cooperação técnica para a capacitação de funcionários com a Universidade do Estado do Amazonas, com o objetivo de garantir a formação e constante atualização dos profissionais.
“Nosso empenho e investimentos constantes seja em equipamentos, tecnologia, infraestrutura, capacitação de pessoal ou rede de concessionárias, tem um objetivo primordial: exceder as expectativas dos nossos clientes com produtos e serviços da mais alta qualidade. Seguiremos trabalhando para isso”, enfatizou o presidente da Moto Honda da Amazônia, Issao Mizoguchi.
A estrutura do CDT, única no país, será, portanto, mais um importante ativo para a concepção de novos produtos com a tecnologia Honda. Inaugurada em 1976, a maior fábrica de motocicletas Honda em todo o mundo tornou-se um dos maiores empreendimentos do Polo Industrial de Manaus. Em sua planta, que ocupa uma área construída de 193 mil m², em um terreno de 661 mil m², produz também quadrículos e motores estacionários. No acumulado desde o início das atividades da empresa, os investimentos específicos em Pesquisa & Desenvolvimento já ultrapassam 200 milhões de reais.
Destaques
- Estações CATIA, que operam o sistema de análise DPM (Data Proto Model). Nele, a motocicleta é desenvolvida, avaliada e aprimorada em simulações digitais que reproduzem montagens e testes com a mesma precisão que se teria com as peças reais, porém com muito mais rapidez.
- Laboratórios de Controle de Qualidade com equipamentos de ponta, destinados a avaliação de materiais, produtos e processos com a mais alta tecnologia. Destaque para o processo MEV (Microscópio Eletrônico de Varredura), o Analisador de Elementos Químicos ICP e o Analisador “Thermo Weather” para testes de intemperismo, únicos no polo industrial de Manaus.
- Com essa iniciativa, a Moto Honda já se encontra preparada para o atendimento do PROMOT-4 – próxima fase de regulamentação de emissões para o setor de duas rodas. Essas instalações contam com:
- Laboratório de Emissões de Motocicletas, o primeiro da América Latina, totalmente modernizado.
- Laboratório de Durabilidade de Emissões, que simula o uso da motocicleta em testes rigorosos para assegurar que o produto é capaz de manter baixos índices de emissões ao longo do seu tempo de uso.
- Laboratório de Resistência/Extensometria, que simula os esforços aplicados aos componentes durante o uso da motocicleta e sua resistência.
- Campo de Provas, com pistas capazes de simular a utilização das motocicletas nas mais variadas condições de uso encontradas pelas estradas do Brasil.

Fonte: Equipe MOTO.com.br
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Meu comentário:

A inovação destaca-se como grande força de indução e renovação nas maiores empresas do mundo, e inevitavelmente, do crescimento sustentável das nações, pelo simples fato de fazer diferente, gerar conhecimento e consequentemente reconhecimento e valor econômico para as organizações.
A Moto Honda mais uma vez destaca-se das demais empresas do PIM, não somente pelo pioneirismo, mas pelo compromisso com a região e com a idéia de trazer para nosso polo, um centro de decisão e desenvolvimento tecnológico, enquanto todas as demais empresas do PIM concentram seus polos decisórios e de desenvolvimento tecnológico no sul e sudeste do país, fazendo com isso nosso modelo ser mais adepto ao MADE IN do que ao CREATED IN, além de gerar críticas pelos ferrenhos opositores ao modelo ZFM.
O artigo anterior (Mundo estranho: Lucros e investimentos tomam caminhos opostos) fala do cenário atual causado pela última crise economica e das vias contrárias em que circulam os lucros e os investimentos. A Moto Honda pode ser um exemplo desse cenário.
Responsável por 18,47% do faturamento do Polo Industrial de Manaus e 16,36% da mão de obra, segundo os indicadores da Suframa, o setor de duas rodas segue em queda livre desde 2011 e já soma uma redução de 25% do faturamento e 12% de mão de obra no período, queda nas exportações, acumulo de queda na produção de 22% entre junho/2012 e junho/2013, baixa evolução no volume de vendas no início do segundo semestre, dificuldade no mercado de financiamentos para o consumidor final, enfim, se não for o pior, é um dos piores momentos de sua história de mercado.
Mas ao invés de desacelerar a empresa Moto Honda avança , investindo em ciência, tecnologia e inovação, para criar e desenvolver tecnologia em nosso estado para o mundo. Parabéns Moto Honda, a seus dirigentes e funcionários.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Mundo estranho: lucros e investimentos tomam caminhos opostos



Por André Rocha - Estrategista

Ninguém duvida de que tivemos uma das piores crises do capitalismo em 2008, cujos reflexos ainda permanecem com recessões, juros baixos e liquidez elevada incentivada pelos bancos centrais. Nesse cenário, não há como a economia real passar incólume. Nos Estados Unidos os lucros e os investimentos das corporações que geralmente caminhavam lado a lado, tomaram caminhos opostos. Enquanto os primeiros continuam ascendentes, os gastos com capital despencaram. E no Brasil, como essas variáveis têm se comportado?

A reportagem do Financial Times “Empresas dos EUA lucram mais, mas investem menos”, publicada no Valor de 8 de agosto, mostrou que as empresas têm adotado comportamento pouco usual. Entre 1952 até 1980, lucros e investimentos caminharam lado a lado, representando ambos cerca de 9% do PIB. Essa relação foi mais fraca nas décadas seguintes, mas rompeu-se definitivamente em 2009. Enquanto os lucros engataram uma tendência de alta, atingindo 12% do PIB, os desembolsos com capital despencaram para 4% do PIB.

Embora o lucro seja uma medida contábil, é razoável supor que quanto maior o lucro, maior a geração de caixa e vice versa. Por isso, a relação entre lucros e investimentos geralmente andam juntas. Com maior geração de caixa, parte dos recursos é destinada a investimentos produtivos. Contudo, isso não tem ocorrido.

A reportagem sugere diversas explicações para o fenômeno. Alguns especialistas alegam que, com a crise de 2008, a elevação da capacidade ociosa permitiu que os resultados crescessem sem adição de nova capacidade produtiva. Outros dizem que a perspectiva de baixo crescimento não tem incentivado as companhias a investirem. Já as companhias culpam o excesso de regulação, de tributação e as incertezas de política econômica como restritivas ao investimento. Uma corrente cita o avanço da informatização: a queda do preço dos computadores em relação a outros itens de capital e seu uso mais intensivo explicariam a redução dos investimentos totais da economia. Outra explicação é relacionada a essa última. As estatísticas não tem computado corretamente o avanço dos ativos intangíveis “como pesquisa, desenvolvimento de marcas e melhor organização empresarial”. 

O economista Paul Krugman advoga tese mais pessimista: “um aumento do poder monopolista” das grandes corporações, cujos resultados crescem por intermédio da diluição de custos e aumento dos preços. Outra teoria fala da importância excessiva que os executivos têm dado ao lucro por ação de forma a aumentar suas remunerações. A visão de curto prazo dos agentes de mercado tem incentivado às companhias a serem eficientes no controle dos custos e a evitarem investimentos de risco. Com isso aumenta-se o lucro sem contrapartida de incremento dos gastos com capital.

E no Brasil? Peguei o índice acionário brasileiro com maior número de empresas, o IBrX, e calculei os lucros e investimentos em relação ao PIB entre 2003 e 2012, Eliminei as companhias integrantes do índice que não apresentaram resultados em todos os anos. Restaram 70 empresas. Durante o período tanto o lucro quanto os investimentos andaram em linha com exceção de 2005, 2012 e 2013 (entre junho de 2012 e junho de 2013). Em 2005, os investimentos caíram enquanto os lucros permaneceram firmes, situação similar a dos Estados Unidos hoje. Contudo, fenômeno inverso ocorreu em 2012 e 2013: os investimentos permaneceram ascendentes e os lucros despencaram.



Minha leitura é a de que os lucros sentiram o efeito da desaceleração da economia. Por outro lado, mudanças na decisão de investimentos não são tão ágeis. Assim, os gastos com capital não foram descontinuados apesar da alteração do quadro macroeconômico.
Essa situação tanto nos EUA quanto no Brasil não é sustentável. Lá, a retenção do lucro ou sua distribuição aos acionistas sem novos investimentos comprometerão o crescimento dos lucros futuros. Como consequência, a proporção do lucro sobre o PIB tende a cair aproximando-se do índice de investimentos. E aqui, investimentos com lucros anêmicos (logo com menor geração de caixa) empurram as empresas para o financiamento dos investimentos via dívida o que apresenta um limite. Assim, caso o cenário não se altere, teremos queda dos investimentos no médio prazo com sua convergência para o nível dos lucros. O crescimento saudável das empresas americanas e brasileiras necessita de uma nova dinâmica.

Em suma, quem lucra não investe e quem não lucra investe. Definitivamente vivemos em um mundo estranho.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Ganho relativo da poupança recua quando a Selic aumenta




Por Marcelo D´Agosto

A rentabilidade da caderneta de poupança em relação às demais aplicações financeiras é inversamente proporcional à taxa Selic. Significa que quanto maior a taxa básica de juros, menos vantajoso é investir na poupança.
As contas são complexas. O rendimento da caderneta é de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), desde que a Selic seja maior do que 8,5% ao ano. O problema é calcular a TR. Criada na época da hiperinflação, a fórmula para definir a taxa ilustra a engenhosidade que era necessária para sobreviver num ambiente de descontrole do aumento de preços.
A TR é uma taxa difícil de ser explicada e virtualmente impossível de ser reproduzida. Apenas o Banco Central (BC) possui todas as informações necessárias para efetuar os cálculos.
As contas levam em consideração a remuneração média dos certificados de depósitos bancários, os dias úteis da aplicação e um fator, arbitrado pelo BC, que reduz o rendimento da TR.
O gráfico abaixo mostra, desde 23 de julho de 2009, a rentabilidade da caderneta de poupança como percentual da variação da taxa do certificado de depósito interfinanceiro (CDI) para períodos encerrados a cada aniversário da aplicação. No mesmo gráfico, no eixo da direita, aparece a meta da taxa Selic praticada na data do início de cada período.

A rentabilidade da poupança girou em torno de 75% do CDI até maio de 2010, enquanto a Selic permanecia em 8,75% ao ano. A partir de então a remuneração da poupança começa a cair, atingindo o patamar inferior a 65% do CDI em meados de julho de 2010. No mesmo intervalo a Selic subiu, até chegar ao pico de 12,5% ao ano.
Depois, a remuneração da poupança em relação ao CDI volta a subir, seguindo caminho oposto ao da Selic. A rentabilidae da poupança atinge picos quando a Selic cai para 7,25% ao ano.
Agora, com o BC ajustando a taxa básica de juros para cima, a tendência é que a remuneração da poupança em relação ao CDI volte a cair. A vantagem da tradicional aplicação sobre as demais alternativas parece estar com os dias contados.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O ministro tinha razão

Por Antonio Delfin Netto

Talvez seja o momento de os críticos impenitentes fazerem justiça à retórica do ministro Guido Mantega quando, para chamar a atenção do G-20 para o problema, afirmou que o laxismo monetário americano estava promovendo uma "guerra cambial".
As recentes turbulências do mercado nos países emergentes parecem lhe dar razão. É insano brigar com os fatos. A não ser que se aceite uma lógica em que cessando a causa não cessa o efeito (o que torna muito mais difícil a compreensão do mundo), fica complicado explicar, porque se o laxismo monetário não era uma das causas da desvalorização do dólar - que valorizava a moeda dos emergentes - a simples expectativa de sua suspensão está valorizando o dólar e, simetricamente, desvalorizando a moeda dos emergentes?
No acordo de Bretton Woods, em 1944, concluiu-se que para ter uma política econômica que cuide de manter plenamente ocupado o seu fator de produção não comercializável mais escasso, é preciso que cada país tenha: 1) uma política fiscal que controle o nível discricionário da demanda pública; 2) uma política monetária que fixe a taxa de juro real, que controla a demanda privada, de forma a produzir uma inflação estável e parecida com as dos competidores internacionais; 3) uma política cambial que ajuste, eventualmente, a taxa de câmbio real para manter a balança em conta corrente em equilíbrio ao longo do ciclo econômico (com uso e recuperação de reservas); e, finalmente, mas não menos importante, 4) um controle do movimento de capitais.
Mantega alertou que EUA promoviam "guerra cambial"
Apesar de alguns defeitos antecipados quando se criou o sistema, ele funcionou razoavelmente. Quebrou quando os EUA foram levados a desvalorizar o dólar com relação ao ouro. A partir desse momento toda aquela regulação cambial foi sendo atropelada pelos fatos e acompanhada pela destruição paulatina do controle do sistema financeiro construído nos anos 30 em resposta à grande crise. Bretton Woods foi substituído pela livre flutuação da taxa de câmbio e uma liberdade crescente do movimento de capitais.
O "avanço" foi ajudado por alguns economistas. Inventaram "a posteriori" a teoria que os mercados financeiros eram "perfeitos", que deixados a si mesmos eram "autorreguláveis" e tinham uma "moralidade ínsita". Tratava-se de "pseudo ciência" contra toda a evidência histórica secularmente acumulada: o sistema financeiro sem regulação retorna, sempre, ao local do crime. Alguns até fizeram seu nome "redescobrindo" um velho trilema das economias abertas: é impossível ter ao mesmo tempo: 1) uma política monetária que cuide do equilíbrio interno; 2) uma taxa de câmbio fixa e 3) liberdade de movimento de capitais. Necessariamente, portanto, é preciso desistir de uma delas. Ora, nenhum país soberano pode abdicar da primeira. Logo a escolha é entre a segunda e a terceira. É óbvio que num país emergente a estabilidade cambial é fundamental, o que explica porque eles resistiram, enquanto foi possível. No Consenso de Washington e na China, ela foi rejeitada, a despeito da opinião do FMI.
Nada disso é novidade, mas revela uma aporia. Os países emergentes que, para conservar a independência de sua política monetária abdicaram, sob a pressão de organismos internacionais, da taxa de câmbio fixa e aceitaram a livre movimentação dos capitais, descobriram que ela era uma ilusão. Os movimentos monetários do banco central americano determinam as flutuações das suas taxas de câmbio e condicionam suas políticas monetárias, como sugeriu a economista Helène Rey, da London Business School.
O que os emergentes têm pela frente, portanto, não é um trilema. É um pobre dilema: impor controle à plena liberdade no movimento dos capitais ou entregar sua política monetária ao banco central americano, o Fed! Sua superação precisa de uma ordem internacional inteligente.
É claro que as taxas de câmbio dos países emergentes têm um efeito interno produzido por sua própria política econômica, ao qual soma-se o efeito produzido pela externalidade da política monetária dos EUA, hoje agravada pelos problemas de comunicação do Fed e pela suspeita de que, sem orientação segura, navega num mar nunca dantes navegado. Como é notório, ele perdeu o respeito de seus próprios economistas.
A nossa taxa de câmbio está sujeita às mesmas pressões que pesam sobre a maioria dos países emergentes, somadas aos nossos problemas internos. Em compensação dispomos: 1) de um mercado de câmbio extremamente sofisticado e bem regulado, no qual existem instrumentos de intervenção governamental (swaps) em que a operação é nominada em dólares, mas liquidada em reais. A despeito de terem custos fiscais, eles permitem a substituição do uso das reservas (que, ao contrário, reduz o custo fiscal) até que a taxa de câmbio atinja um patamar estável; e 2) de US$ 370 bilhões de reservas, o que nos dão segurança e tempo para qualquer ajuste.
O fato de o real ter sido a moeda que mais se desvalorizou recentemente é irrelevante. Ela foi, também, a que mais se valorizou artificialmente nos últimos anos, nos quais não aproveitamos os ganhos dos termos de troca para fazer reformas que devíamos. Eles foram usados, juntamente com a maior taxa de juro real do mundo, para valorizar o câmbio e controlar a inflação, o que custou a destruição do nosso sistema industrial.


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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O que preocupa no debate econômico


Por Antonio Alves e Rogerio Studart

Preocupa o atual debate econômico no Brasil. Excessivamente acalorado e polarizado, muitas vezes carece de diagnóstico claro sobre a trajetória de desenvolvimento e de propostas adequadas para enfrentar os desafios.
Sobre o diagnóstico, prevalece a visão de que a trajetória dos últimos dez anos foi simplesmente um boom de consumo e/ou de exportações de commodities. Parece-nos uma simplificação tosca. Houve, sim, um processo de valorização do salário-mínimo real, de aumento e formalização do emprego, e uma expansão de transferências de renda. E os resultados são muito positivos, e estão por todos os lados: a queda acelerada da desigualdade social e regional, 14 milhões de novos empregos formais, desemprego abaixo de 6% e ingresso de cerca de 50 milhões de pessoas nas classes C e D. O cenário externo - com aumento da demanda por commodities e dos fluxos de capital- ajudou muito. Sem ele, a trajetória teria gerado pressões inflacionárias e/ou de balanço de pagamentos. Mas ele não foi determinante nessa trajetória de desenvolvimento, ancorada em acelerado processo de inclusão socioeconômica importante.
Este desenvolvimento inclusivo trouxe desafios enormes para um país cujas infraestrutura e estrutura produtiva foram moldadas pela desigualdade. Para resolver estes déficits, um desafio é induzir o aumento do investimento privado - apesar da extraordinária aversão ao risco do nosso empresariado e da incerteza sobre a trajetória de longo prazo. Parecem, no mínimo, pouco intuitivas as visões que circulam no debate nacional de que basta criar um melhor ambiente regulatório e promover uma expansão da poupança (por meio da redução do consumo e do gasto público) para destravar o investimento privado.
A rigidez que querem impor à administração do tripé contrasta com a flexibilidade com que o mundo trata a crise
Aprimorar o ambiente de investimento, por mais importante que seja, por si só não melhora as expectativas de longo prazo. E não parece razoável que o investimento privado possa crescer sem uma perspectiva de continuidade do crescimento dos mercados, para o qual em nada contribui a redução do consumo - especialmente sem sinais de retomada do comércio internacional no horizonte médio. Para atiçar o "animal spirit" empresarial, o governo tem três grandes tarefas que devem ser perseguidas simultaneamente: garantir a expansão não inflacionária do consumo; promover parcerias com investidores privados em grandes projetos; assegurar fontes de financiamento de longo prazo.
No que tange à administração macroeconômica, sabe-se que a tarefa não vai ser fácil - mas o debate atual exagera no diagnóstico e na avaliação sobre as possibilidades de enfrentar as dificuldades. Mesmo diante desse quadro de instabilidade internacional prolongada, o desemprego tem estado em queda e há forte criação líquida de empregos formais. O saldo comercial tornou-se deficitário nos primeiros meses de 2013, o que preocupa; mas temos mais de US$ 370 bilhões de reserva, o que é uma sólida base para controlar a desvalorização cambial e melhorar nossa competitividade. A dívida bruta elevou-se desde o início da crise, mas permanece estabilizada em torno dos 60% do PIB - um resultado fiscal extraordinário quando comparado internacionalmente.
Por fim, a inflação, medida pelo IPCA, mantém-se próxima ao teto do sistema de metas, mas está em queda (6,3% nos 12 meses terminados em julho). Não estamos a "beira de um abismo" e, mesmo mantendo o tripé econômico, há espaços e trade-offs a serem considerados, dadas as circunstâncias domésticas e externas. (Aliás, a rigidez que querem impor à administração do tripé contrasta fortemente com a flexibilidade e liberdade com que, no mundo inteiro, as equipes econômicas estão combatendo os efeitos da maior crise econômica mundial desde 1929 - mas isso é tema para outro artigo).
No que toca à segunda tarefa, novas oportunidades para o setor privado estão sendo organizadas pelo governo em torno de programas como o PAC, o pré-sal, o "Minha Casa, Minha Vida". O Programa de Infraestrutura Logística, calculado em R$ 80 bilhões para os próximos cinco anos, e mais de R$ 50 bilhões nos anos posteriores, bem como o recém-anunciado Programa Nacional de Mobilidade, estimado em R$ 50 bilhões, além de perspectivas de investimentos em portos, aeroportos e hidrovias, representarão um novo horizonte para os investimentos em infraestrutura.
Por fim, diante da alta aversão a risco por parte do setor financeiro privado, o papel dos bancos públicos continuará a ser imprescindível (este foi, aliás o principal argumento utilizado pelo Banco Mundial para mais que triplicar seus empréstimos para países em desenvolvimento nos últimos anos). Aqui a tese de alguns analistas de que os aportes do Tesouro estejam levando a um descontrole fiscal não se sustenta; também não é o momento para reeditar visões inocentes, ultrapassadas em todo o mundo, de que se pode estimular os investimentos simplesmente reduzindo o papel e a atuação de bancos públicos.
Em suma, testemunhamos um processo de inclusão socioeconômica de grande escala, que teve consequências transformadoras, e que traz grandes desafios para o governo, para o setor privado e para a cidadania como um todo. Não estamos à "beira do abismo", não se abandonou o tripé econômico, e há espaço de manobra para correções que podem ser efetuadas - mas sempre levando em consideração a trajetória que o Brasil tem vivido. Não há respostas simples nem receitas de bolo. Precisamos, sim, urgentemente, de um debate econômico com menos calor, melhores diagnósticos e propostas isentas de preconceitos e mistificações


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