Por André Rocha - Estrategista
Ninguém duvida de que tivemos uma
das piores crises do capitalismo em 2008, cujos reflexos ainda permanecem com
recessões, juros baixos e liquidez elevada incentivada pelos bancos centrais.
Nesse cenário, não há como a economia real passar incólume. Nos Estados Unidos
os lucros e os investimentos das corporações que geralmente caminhavam lado a
lado, tomaram caminhos opostos. Enquanto os primeiros continuam ascendentes, os
gastos com capital despencaram. E no Brasil, como essas variáveis têm se
comportado?
A reportagem do Financial Times
“Empresas dos EUA lucram mais, mas investem menos”, publicada no Valor de 8 de
agosto, mostrou que as empresas têm adotado comportamento pouco usual. Entre
1952 até 1980, lucros e investimentos caminharam lado a lado, representando
ambos cerca de 9% do PIB. Essa relação foi mais fraca nas décadas seguintes,
mas rompeu-se definitivamente em 2009. Enquanto os lucros engataram uma
tendência de alta, atingindo 12% do PIB, os desembolsos com capital despencaram
para 4% do PIB.
Embora o lucro seja uma medida
contábil, é razoável supor que quanto maior o lucro, maior a geração de caixa e
vice versa. Por isso, a relação entre lucros e investimentos geralmente andam
juntas. Com maior geração de caixa, parte dos recursos é destinada a
investimentos produtivos. Contudo, isso não tem ocorrido.
A reportagem sugere diversas
explicações para o fenômeno. Alguns especialistas alegam que, com a crise de
2008, a elevação da capacidade ociosa permitiu que os resultados crescessem sem
adição de nova capacidade produtiva. Outros dizem que a perspectiva de baixo
crescimento não tem incentivado as companhias a investirem. Já as companhias
culpam o excesso de regulação, de tributação e as incertezas de política
econômica como restritivas ao investimento. Uma corrente cita o avanço da
informatização: a queda do preço dos computadores em relação a outros itens de
capital e seu uso mais intensivo explicariam a redução dos investimentos totais
da economia. Outra explicação é relacionada a essa última. As estatísticas não
tem computado corretamente o avanço dos ativos intangíveis “como pesquisa,
desenvolvimento de marcas e melhor organização empresarial”.
O economista Paul
Krugman advoga tese mais pessimista: “um aumento do poder monopolista” das
grandes corporações, cujos resultados crescem por intermédio da diluição de
custos e aumento dos preços. Outra teoria fala da importância excessiva que os
executivos têm dado ao lucro por ação de forma a aumentar suas remunerações. A
visão de curto prazo dos agentes de mercado tem incentivado às companhias a
serem eficientes no controle dos custos e a evitarem investimentos de risco.
Com isso aumenta-se o lucro sem contrapartida de incremento dos gastos com
capital.
E no Brasil? Peguei o índice
acionário brasileiro com maior número de empresas, o IBrX, e calculei os lucros
e investimentos em relação ao PIB entre 2003 e 2012, Eliminei as companhias
integrantes do índice que não apresentaram resultados em todos os anos. Restaram
70 empresas. Durante o período tanto o lucro quanto os investimentos andaram em
linha com exceção de 2005, 2012 e 2013 (entre junho de 2012 e junho de 2013).
Em 2005, os investimentos caíram enquanto os lucros permaneceram firmes,
situação similar a dos Estados Unidos hoje. Contudo, fenômeno inverso ocorreu
em 2012 e 2013: os investimentos permaneceram ascendentes e os lucros
despencaram.
Minha leitura é a de que os
lucros sentiram o efeito da desaceleração da economia. Por outro lado, mudanças
na decisão de investimentos não são tão ágeis. Assim, os gastos com capital não
foram descontinuados apesar da alteração do quadro macroeconômico.
Essa situação tanto nos EUA
quanto no Brasil não é sustentável. Lá, a retenção do lucro ou sua distribuição
aos acionistas sem novos investimentos comprometerão o crescimento dos lucros
futuros. Como consequência, a proporção do lucro sobre o PIB tende a cair
aproximando-se do índice de investimentos. E aqui, investimentos com lucros
anêmicos (logo com menor geração de caixa) empurram as empresas para o
financiamento dos investimentos via dívida o que apresenta um limite. Assim,
caso o cenário não se altere, teremos queda dos investimentos no médio prazo
com sua convergência para o nível dos lucros. O crescimento saudável das
empresas americanas e brasileiras necessita de uma nova dinâmica.


Nenhum comentário:
Postar um comentário