Translate

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ciência, Tecnologia e Inovação: Necessidade de um novo marco regulatório para o desenvolvimento.


Por José Ricardo Wendling

O tema desenvolvimento tecnológico e inovação não é novidade, mas nos anos recentes entrou definitivamente como pauta importante e com peso relevante nas agendas governamentais, nas mídias e nas empresas, ratificando que todos esses segmentos compreenderam a importância da Ciência e Tecnologia.

A inovação têm-se destacado como grande força de propulsão e renovação da maioria das empresas, e inevitavelmente, do crescimento sustentável das nações. Pelo simples fato de fazer diferente, gera reconhecimento por todos como posição de destaque a todos stakeholders e, sobretudo para a sociedade, gerando consequentemente valor econômico para as organizações.

O Brasil e, especificamente o Amazonas, têm um diferencial oportuno em comparação com demais regiões. É ao mesmo tempo o País da etnodiversidade e o Estado da biodiversidade. Por outro lado, ambos: País e Estado têm um enorme desafio, que consiste na inserção efetiva de toda essa etnodiversidade e biodiversidade no contexto da inovação e tecnologia. Um dado revelador: Em nosso país menos de 27% dos cientistas atualmente trabalha em projetos ligados a empresas, já nos EUA, país que viu nascerem grandes empresas, 80% dos pesquisadores são inseridos em trabalhos empresariais. Há quem diga que os cientistas brasileiros são exímios transformadores de recursos em conhecimento, mas falhos e ainda limitados em transformar esses conhecimentos em dinheiro. Na Coréia do Sul, que acelerou esse crescimento, este mesmo número é de 77%. No Amazonas o contraste é diferente, ainda carecemos e muito de doutores formados em nossa região e cientistas fixados e comprometidos com o desenvolvimento científico de nossos potenciais naturais.

Para ter-se uma ideia, de acordo com o CNPq numa pesquisa feita em 2008 com todos os doutores brasileiros formados entre 1996 e 2006, praticamente 80 mil deles estavam no Brasil, 97% empregados, onde: 80% atuavam no setor educacional, outros 11% estavam no setor público e menos de 6% nas empresas. Nos EUA a proporção é de 40% de doutores na indústria. Nesse mesmo país, um projeto entre uma empresa e uma universidade não passa pelo governo, tem que ser executado dentro dos tramites oficiais, porém não existe controle governamental sobre o que a indústria pode ou não fazer com a universidade. Por exemplo: se uma fundação resolve repassar US$ 20 milhões para uma pesquisa em setor da área espacial, várias universidades irão apresentar projetos para esta fundação e entrar numa grande concorrência, não é uma competição fácil, porém é completamente desligada do governo.

Para que isso gere um efeito positivo, precisamos transformar os conhecimentos novos em resultados sustentáveis. O Amazonas passou muito tempo com propostas de crescimento sustentável, e hoje estamos correndo, ansiosos, para requerer os direitos de uma vocação adquirida ao invés de termos trabalhado com antecedência em nossa vocação latente e abundante que é nossa biodiversidade, fonte para o desenvolvimento sustentável.

O Amazonas possui um cenário empreendedor interessante que nos coloca como região de destaque no mundo. Mas, esse destaque está mais ligado ao tamanho da população e região empreendedora do que pelo planejamento empreendedor. Infelizmente, por aqui essa atividade ainda acontece mais num sentido da necessidade e não da oportunidade, e com muito pouco conteúdo inovador. Estamos mais adeptos ao made in Amazonas do que ao created in Amazonas. Os dados do PINTEC, coletados pelo IBGE falam por si: A porcentagem total de investimentos privados em PD&I no Brasil é de 0,55% do PIB, contra 1,87% nos EUA e 2,45% na Coreia do Sul.

É importante pensar que nosso estado não é composto apenas por árvores, mas pelos quase quatro milhões de amazônidas. Qualquer estratégia de defesa do Amazonas, e da própria Amazônia como um todo será precária se não estiver fundada num projeto econômico consistente.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Honda inaugura novo centro de tecnologia em Manaus (AM)


A Moto Honda da Amazônia inaugura um novo e moderno Centro de Desenvolvimento e Tecnologia (CDT), em Manaus (AM). A estrutura, que contou o investimento de R$ 20 milhões, possui uma área de 4.200 m² e deve abrigar em torno de 200 dos aproximadamente 10 mil funcionários da Honda em Manaus.
O CDT é um verdadeiro polo de desenvolvimento multidisciplinar com integração total entre todos os departamentos responsáveis pelas atividades relacionadas ao desenvolvimento de novas técnicas, processos e produtos Honda.
O início das atividades do CDT representa também um marco para a empresa, uma vez que se inicia a implantação de uma nova e moderna forma de trabalho, fundamentada no conceito “One Floor”. Já utilizado pela matriz japonesa, o conceito prevê maior proximidade das áreas envolvidas nas operações industriais com objetivo de acelerar os processos de tomada de decisão e, com isso, ganhar em agilidade e competitividade.
A partir deste conceito serão reunidas em um mesmo ambiente todas as áreas envolvidas no desenvolvimento de novos produtos e que hoje já atuam com a metodologia EDB – onde as áreas de Pesquisa & Desenvolvimento, Engenharia & Manufatura, e Compras trabalham em sinergia desde a concepção, desenvolvimento e validação do produto até sua manufatura, de modo a acelerar os processos de tomada de decisão e a obtenção de resultados.
Para colocar estes conceitos em prática, foi preciso estabelecer e desenvolver estruturas avançadas com equipamentos de alta tecnologia, idealizados para o completo suporte técnico às atividades de desenvolvimento de produtos e treinamento para os funcionários.
A equipe de engenheiros e técnicos da empresa tem sido capacitada através de treinamentos e intercâmbios no Brasil e no exterior. Foi firmado ainda com um convênio de cooperação técnica para a capacitação de funcionários com a Universidade do Estado do Amazonas, com o objetivo de garantir a formação e constante atualização dos profissionais.
“Nosso empenho e investimentos constantes seja em equipamentos, tecnologia, infraestrutura, capacitação de pessoal ou rede de concessionárias, tem um objetivo primordial: exceder as expectativas dos nossos clientes com produtos e serviços da mais alta qualidade. Seguiremos trabalhando para isso”, enfatizou o presidente da Moto Honda da Amazônia, Issao Mizoguchi.
A estrutura do CDT, única no país, será, portanto, mais um importante ativo para a concepção de novos produtos com a tecnologia Honda. Inaugurada em 1976, a maior fábrica de motocicletas Honda em todo o mundo tornou-se um dos maiores empreendimentos do Polo Industrial de Manaus. Em sua planta, que ocupa uma área construída de 193 mil m², em um terreno de 661 mil m², produz também quadrículos e motores estacionários. No acumulado desde o início das atividades da empresa, os investimentos específicos em Pesquisa & Desenvolvimento já ultrapassam 200 milhões de reais.
Destaques
- Estações CATIA, que operam o sistema de análise DPM (Data Proto Model). Nele, a motocicleta é desenvolvida, avaliada e aprimorada em simulações digitais que reproduzem montagens e testes com a mesma precisão que se teria com as peças reais, porém com muito mais rapidez.
- Laboratórios de Controle de Qualidade com equipamentos de ponta, destinados a avaliação de materiais, produtos e processos com a mais alta tecnologia. Destaque para o processo MEV (Microscópio Eletrônico de Varredura), o Analisador de Elementos Químicos ICP e o Analisador “Thermo Weather” para testes de intemperismo, únicos no polo industrial de Manaus.
- Com essa iniciativa, a Moto Honda já se encontra preparada para o atendimento do PROMOT-4 – próxima fase de regulamentação de emissões para o setor de duas rodas. Essas instalações contam com:
- Laboratório de Emissões de Motocicletas, o primeiro da América Latina, totalmente modernizado.
- Laboratório de Durabilidade de Emissões, que simula o uso da motocicleta em testes rigorosos para assegurar que o produto é capaz de manter baixos índices de emissões ao longo do seu tempo de uso.
- Laboratório de Resistência/Extensometria, que simula os esforços aplicados aos componentes durante o uso da motocicleta e sua resistência.
- Campo de Provas, com pistas capazes de simular a utilização das motocicletas nas mais variadas condições de uso encontradas pelas estradas do Brasil.

Fonte: Equipe MOTO.com.br
______________________________________________________________________
Meu comentário:

A inovação destaca-se como grande força de indução e renovação nas maiores empresas do mundo, e inevitavelmente, do crescimento sustentável das nações, pelo simples fato de fazer diferente, gerar conhecimento e consequentemente reconhecimento e valor econômico para as organizações.
A Moto Honda mais uma vez destaca-se das demais empresas do PIM, não somente pelo pioneirismo, mas pelo compromisso com a região e com a idéia de trazer para nosso polo, um centro de decisão e desenvolvimento tecnológico, enquanto todas as demais empresas do PIM concentram seus polos decisórios e de desenvolvimento tecnológico no sul e sudeste do país, fazendo com isso nosso modelo ser mais adepto ao MADE IN do que ao CREATED IN, além de gerar críticas pelos ferrenhos opositores ao modelo ZFM.
O artigo anterior (Mundo estranho: Lucros e investimentos tomam caminhos opostos) fala do cenário atual causado pela última crise economica e das vias contrárias em que circulam os lucros e os investimentos. A Moto Honda pode ser um exemplo desse cenário.
Responsável por 18,47% do faturamento do Polo Industrial de Manaus e 16,36% da mão de obra, segundo os indicadores da Suframa, o setor de duas rodas segue em queda livre desde 2011 e já soma uma redução de 25% do faturamento e 12% de mão de obra no período, queda nas exportações, acumulo de queda na produção de 22% entre junho/2012 e junho/2013, baixa evolução no volume de vendas no início do segundo semestre, dificuldade no mercado de financiamentos para o consumidor final, enfim, se não for o pior, é um dos piores momentos de sua história de mercado.
Mas ao invés de desacelerar a empresa Moto Honda avança , investindo em ciência, tecnologia e inovação, para criar e desenvolver tecnologia em nosso estado para o mundo. Parabéns Moto Honda, a seus dirigentes e funcionários.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Mundo estranho: lucros e investimentos tomam caminhos opostos



Por André Rocha - Estrategista

Ninguém duvida de que tivemos uma das piores crises do capitalismo em 2008, cujos reflexos ainda permanecem com recessões, juros baixos e liquidez elevada incentivada pelos bancos centrais. Nesse cenário, não há como a economia real passar incólume. Nos Estados Unidos os lucros e os investimentos das corporações que geralmente caminhavam lado a lado, tomaram caminhos opostos. Enquanto os primeiros continuam ascendentes, os gastos com capital despencaram. E no Brasil, como essas variáveis têm se comportado?

A reportagem do Financial Times “Empresas dos EUA lucram mais, mas investem menos”, publicada no Valor de 8 de agosto, mostrou que as empresas têm adotado comportamento pouco usual. Entre 1952 até 1980, lucros e investimentos caminharam lado a lado, representando ambos cerca de 9% do PIB. Essa relação foi mais fraca nas décadas seguintes, mas rompeu-se definitivamente em 2009. Enquanto os lucros engataram uma tendência de alta, atingindo 12% do PIB, os desembolsos com capital despencaram para 4% do PIB.

Embora o lucro seja uma medida contábil, é razoável supor que quanto maior o lucro, maior a geração de caixa e vice versa. Por isso, a relação entre lucros e investimentos geralmente andam juntas. Com maior geração de caixa, parte dos recursos é destinada a investimentos produtivos. Contudo, isso não tem ocorrido.

A reportagem sugere diversas explicações para o fenômeno. Alguns especialistas alegam que, com a crise de 2008, a elevação da capacidade ociosa permitiu que os resultados crescessem sem adição de nova capacidade produtiva. Outros dizem que a perspectiva de baixo crescimento não tem incentivado as companhias a investirem. Já as companhias culpam o excesso de regulação, de tributação e as incertezas de política econômica como restritivas ao investimento. Uma corrente cita o avanço da informatização: a queda do preço dos computadores em relação a outros itens de capital e seu uso mais intensivo explicariam a redução dos investimentos totais da economia. Outra explicação é relacionada a essa última. As estatísticas não tem computado corretamente o avanço dos ativos intangíveis “como pesquisa, desenvolvimento de marcas e melhor organização empresarial”. 

O economista Paul Krugman advoga tese mais pessimista: “um aumento do poder monopolista” das grandes corporações, cujos resultados crescem por intermédio da diluição de custos e aumento dos preços. Outra teoria fala da importância excessiva que os executivos têm dado ao lucro por ação de forma a aumentar suas remunerações. A visão de curto prazo dos agentes de mercado tem incentivado às companhias a serem eficientes no controle dos custos e a evitarem investimentos de risco. Com isso aumenta-se o lucro sem contrapartida de incremento dos gastos com capital.

E no Brasil? Peguei o índice acionário brasileiro com maior número de empresas, o IBrX, e calculei os lucros e investimentos em relação ao PIB entre 2003 e 2012, Eliminei as companhias integrantes do índice que não apresentaram resultados em todos os anos. Restaram 70 empresas. Durante o período tanto o lucro quanto os investimentos andaram em linha com exceção de 2005, 2012 e 2013 (entre junho de 2012 e junho de 2013). Em 2005, os investimentos caíram enquanto os lucros permaneceram firmes, situação similar a dos Estados Unidos hoje. Contudo, fenômeno inverso ocorreu em 2012 e 2013: os investimentos permaneceram ascendentes e os lucros despencaram.



Minha leitura é a de que os lucros sentiram o efeito da desaceleração da economia. Por outro lado, mudanças na decisão de investimentos não são tão ágeis. Assim, os gastos com capital não foram descontinuados apesar da alteração do quadro macroeconômico.
Essa situação tanto nos EUA quanto no Brasil não é sustentável. Lá, a retenção do lucro ou sua distribuição aos acionistas sem novos investimentos comprometerão o crescimento dos lucros futuros. Como consequência, a proporção do lucro sobre o PIB tende a cair aproximando-se do índice de investimentos. E aqui, investimentos com lucros anêmicos (logo com menor geração de caixa) empurram as empresas para o financiamento dos investimentos via dívida o que apresenta um limite. Assim, caso o cenário não se altere, teremos queda dos investimentos no médio prazo com sua convergência para o nível dos lucros. O crescimento saudável das empresas americanas e brasileiras necessita de uma nova dinâmica.

Em suma, quem lucra não investe e quem não lucra investe. Definitivamente vivemos em um mundo estranho.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Ganho relativo da poupança recua quando a Selic aumenta




Por Marcelo D´Agosto

A rentabilidade da caderneta de poupança em relação às demais aplicações financeiras é inversamente proporcional à taxa Selic. Significa que quanto maior a taxa básica de juros, menos vantajoso é investir na poupança.
As contas são complexas. O rendimento da caderneta é de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), desde que a Selic seja maior do que 8,5% ao ano. O problema é calcular a TR. Criada na época da hiperinflação, a fórmula para definir a taxa ilustra a engenhosidade que era necessária para sobreviver num ambiente de descontrole do aumento de preços.
A TR é uma taxa difícil de ser explicada e virtualmente impossível de ser reproduzida. Apenas o Banco Central (BC) possui todas as informações necessárias para efetuar os cálculos.
As contas levam em consideração a remuneração média dos certificados de depósitos bancários, os dias úteis da aplicação e um fator, arbitrado pelo BC, que reduz o rendimento da TR.
O gráfico abaixo mostra, desde 23 de julho de 2009, a rentabilidade da caderneta de poupança como percentual da variação da taxa do certificado de depósito interfinanceiro (CDI) para períodos encerrados a cada aniversário da aplicação. No mesmo gráfico, no eixo da direita, aparece a meta da taxa Selic praticada na data do início de cada período.

A rentabilidade da poupança girou em torno de 75% do CDI até maio de 2010, enquanto a Selic permanecia em 8,75% ao ano. A partir de então a remuneração da poupança começa a cair, atingindo o patamar inferior a 65% do CDI em meados de julho de 2010. No mesmo intervalo a Selic subiu, até chegar ao pico de 12,5% ao ano.
Depois, a remuneração da poupança em relação ao CDI volta a subir, seguindo caminho oposto ao da Selic. A rentabilidae da poupança atinge picos quando a Selic cai para 7,25% ao ano.
Agora, com o BC ajustando a taxa básica de juros para cima, a tendência é que a remuneração da poupança em relação ao CDI volte a cair. A vantagem da tradicional aplicação sobre as demais alternativas parece estar com os dias contados.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O ministro tinha razão

Por Antonio Delfin Netto

Talvez seja o momento de os críticos impenitentes fazerem justiça à retórica do ministro Guido Mantega quando, para chamar a atenção do G-20 para o problema, afirmou que o laxismo monetário americano estava promovendo uma "guerra cambial".
As recentes turbulências do mercado nos países emergentes parecem lhe dar razão. É insano brigar com os fatos. A não ser que se aceite uma lógica em que cessando a causa não cessa o efeito (o que torna muito mais difícil a compreensão do mundo), fica complicado explicar, porque se o laxismo monetário não era uma das causas da desvalorização do dólar - que valorizava a moeda dos emergentes - a simples expectativa de sua suspensão está valorizando o dólar e, simetricamente, desvalorizando a moeda dos emergentes?
No acordo de Bretton Woods, em 1944, concluiu-se que para ter uma política econômica que cuide de manter plenamente ocupado o seu fator de produção não comercializável mais escasso, é preciso que cada país tenha: 1) uma política fiscal que controle o nível discricionário da demanda pública; 2) uma política monetária que fixe a taxa de juro real, que controla a demanda privada, de forma a produzir uma inflação estável e parecida com as dos competidores internacionais; 3) uma política cambial que ajuste, eventualmente, a taxa de câmbio real para manter a balança em conta corrente em equilíbrio ao longo do ciclo econômico (com uso e recuperação de reservas); e, finalmente, mas não menos importante, 4) um controle do movimento de capitais.
Mantega alertou que EUA promoviam "guerra cambial"
Apesar de alguns defeitos antecipados quando se criou o sistema, ele funcionou razoavelmente. Quebrou quando os EUA foram levados a desvalorizar o dólar com relação ao ouro. A partir desse momento toda aquela regulação cambial foi sendo atropelada pelos fatos e acompanhada pela destruição paulatina do controle do sistema financeiro construído nos anos 30 em resposta à grande crise. Bretton Woods foi substituído pela livre flutuação da taxa de câmbio e uma liberdade crescente do movimento de capitais.
O "avanço" foi ajudado por alguns economistas. Inventaram "a posteriori" a teoria que os mercados financeiros eram "perfeitos", que deixados a si mesmos eram "autorreguláveis" e tinham uma "moralidade ínsita". Tratava-se de "pseudo ciência" contra toda a evidência histórica secularmente acumulada: o sistema financeiro sem regulação retorna, sempre, ao local do crime. Alguns até fizeram seu nome "redescobrindo" um velho trilema das economias abertas: é impossível ter ao mesmo tempo: 1) uma política monetária que cuide do equilíbrio interno; 2) uma taxa de câmbio fixa e 3) liberdade de movimento de capitais. Necessariamente, portanto, é preciso desistir de uma delas. Ora, nenhum país soberano pode abdicar da primeira. Logo a escolha é entre a segunda e a terceira. É óbvio que num país emergente a estabilidade cambial é fundamental, o que explica porque eles resistiram, enquanto foi possível. No Consenso de Washington e na China, ela foi rejeitada, a despeito da opinião do FMI.
Nada disso é novidade, mas revela uma aporia. Os países emergentes que, para conservar a independência de sua política monetária abdicaram, sob a pressão de organismos internacionais, da taxa de câmbio fixa e aceitaram a livre movimentação dos capitais, descobriram que ela era uma ilusão. Os movimentos monetários do banco central americano determinam as flutuações das suas taxas de câmbio e condicionam suas políticas monetárias, como sugeriu a economista Helène Rey, da London Business School.
O que os emergentes têm pela frente, portanto, não é um trilema. É um pobre dilema: impor controle à plena liberdade no movimento dos capitais ou entregar sua política monetária ao banco central americano, o Fed! Sua superação precisa de uma ordem internacional inteligente.
É claro que as taxas de câmbio dos países emergentes têm um efeito interno produzido por sua própria política econômica, ao qual soma-se o efeito produzido pela externalidade da política monetária dos EUA, hoje agravada pelos problemas de comunicação do Fed e pela suspeita de que, sem orientação segura, navega num mar nunca dantes navegado. Como é notório, ele perdeu o respeito de seus próprios economistas.
A nossa taxa de câmbio está sujeita às mesmas pressões que pesam sobre a maioria dos países emergentes, somadas aos nossos problemas internos. Em compensação dispomos: 1) de um mercado de câmbio extremamente sofisticado e bem regulado, no qual existem instrumentos de intervenção governamental (swaps) em que a operação é nominada em dólares, mas liquidada em reais. A despeito de terem custos fiscais, eles permitem a substituição do uso das reservas (que, ao contrário, reduz o custo fiscal) até que a taxa de câmbio atinja um patamar estável; e 2) de US$ 370 bilhões de reservas, o que nos dão segurança e tempo para qualquer ajuste.
O fato de o real ter sido a moeda que mais se desvalorizou recentemente é irrelevante. Ela foi, também, a que mais se valorizou artificialmente nos últimos anos, nos quais não aproveitamos os ganhos dos termos de troca para fazer reformas que devíamos. Eles foram usados, juntamente com a maior taxa de juro real do mundo, para valorizar o câmbio e controlar a inflação, o que custou a destruição do nosso sistema industrial.


© 2000 – 2013. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.