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terça-feira, 14 de maio de 2013

Exagerado Consumo e Degradação Ambiental






Por Marcus Eduardo de Oliveira 


Os recentes dados acerca do consumo de bens e serviços em escala mundial reafirmam as inaceitáveis diferenças entre os mais ricos e os mais pobres. Simplesmente, 80% do consumo privado mundial é abocanhado por 20% da população mundial residente nos países mais ricos, o que faz “sobrar” para 80% da população (5,6 milhões de pessoas), residente nos países mais pobres e em vias de desenvolvimento, apenas 20% da produção mundial. Apenas os EUA, com 5% da população mundial (350 milhões de habitantes) consomem 40% dos recursos disponíveis, o que permite concluir que, se os demais habitantes desejarem consumir no mesmo nível dos estadunidenses, seriam necessários mais quatro planetas Terra.

Consumo em larga escala é sinônimo de degradação dos ecossistemas naturais; mais produção é resultado, claro e evidente, de mais poluição, de mais lixo (descarte) e de menos ambiente preservado, o que compromete, sobremaneira, a qualidade de vida de todos.

Não por acaso, etimologicamente a palavra “consumir” significa “esgotar”. Enquanto os mais ricos exageram no consumo, os mais pobres sofrem de perto as consequências do desequilíbrio ambiental. Nos últimos 30 anos, o consumo mundial de bens cresceu numa média anual de 2,3%; em alguns países do leste asiático essa taxa supera o patamar de 6%.

Stephen Pacala, ecologista da Universidade Princeton, aponta que as 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (aproximadamente 7% da população mundial) são atualmente responsáveis por 50% das emissões globais de dióxido de carbono, enquanto os 3 bilhões mais pobres são responsáveis por apenas 6%.

De acordo com o Worldwatch Institute (Relatório “O Estado do Mundo”), em 2008 foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares. O consumo da humanidade em bens e serviços em 1960 atingiu o equivalente a US$ 4,9 trilhões (dólares de 2008); em 1996, chegou a US$ 23,9 trilhões e, dez anos depois, atingia mais de US$ 30 trilhões.

Na França, a média do consumo de proteínas é de 115 gramas/dia, ao passo que em Moçambique é de apenas 32 gramas. Cada cidadão dos Estados Unidos, na média, consome 120 quilos de carnes ao ano (10 quilos por mês), enquanto um angolano consome 24 quilos/ano, (2 quilos/mês). Os 350 milhões de estadunidenses comem 9 bilhões de aves todos os anos.

Na Ásia inteira, com 3,5 bilhões de pessoas, consome-se 16 bilhões/ano. Há 150 carros para cada mil habitantes na China, enquanto nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) essa relação é de 750, e na Índia, apenas 35.

De um lado, cresce exageradamente o consumo e a dilapidação de todo o patrimônio natural (diminuição das florestas e de toda a biodiversidade; à disponibilidade da água potável que era de 17.000 metros cúbicos per capita em 1950 hoje atinge 7.000 metros cúbicos) do outro, disparam os índices de desigualdade social, tornando mais crônico ainda o modo de viver dos mais pobres e carentes.

Pelo lado dessa camada populacional, mais de 50% não dispõem de infraestrutura higiênica, 1/3 não tem água potável, 1/4 não mora num local em condições decentes, 1/5 desconhece qualquer tipo de acesso aos serviços médicos e sanitários. Oitenta e dois por cento da população da Índia, 65% da população da Indonésia, 55% da chinesa e 17% da brasileira ganham menos de U$$ 2/dia, segundo dados do estudo Sustainable Consumption: A Global Status Report, produzido pela United Nations Environment Programme (2002).

De acordo com estudos divulgados pela United Nations Development Programme os cinco países mais ricos, pelo tradicional indicador PIB, (EUA, China, Japão, Alemanha e França) consomem 45% das proteínas disponíveis, 58% da energia, 84% do papel, 14% das linhas telefônicas, enquanto os cinco países mais pobres (Zimbábue, Chade, Burundi, Libéria e Guiné-Bissau) consomem 5% das proteínas, 4% de energia, 1,1% do papel e 1,5% das linhas telefônicas.

Os gastos com cosméticos ao ano somente nos EUA chegam à importância de US$ 8 bilhões. A Europa gasta com cigarros, também ao ano, mais de US$ 50 bilhões e mais US$ 105 bilhões são dispendidos em bebidas alcóolicas. Os gastos em armamentos e equipamentos bélicos no mundo giram, ao ano, próximo de US$ 780 bilhões, enquanto apenas US$ 9 bilhões seriam suficientes para levar água e saneamento básico para toda a população mundial.

Se houvesse seriedade e compromisso ético por parte dos “administradores do mundo” - e não precisamos aqui dar nome aos bois -, apenas US$ 6 bilhões seriam suficientes para custear o ensino básico para todas as crianças do mundo.

Enquanto cresce o consumo para atender apenas alguns privilegiados, degrada-se, sobremaneira, o meio ambiente à medida que mais crescimento econômico (mais produção para o atendimento a esse exagerado consumo) responde pela exaustão (na origem do termo: “cansaço”) dos recursos naturais e energéticos e pela completa depredação dos serviços ecossistêmicos. Já passou da hora do sistema econômico “entender” que é limitada à capacidade de o ecossistema terrestre suportar as pressões advindas do crescimento econômico.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Made in USA



Por Ricardo Amorim


Há anos, a produção da indústria brasileira está estagnada em níveis atingidos no final de 2008. Ao invés de enfrentar as causas estruturais da baixa competitividade da nossa indústria – infraestrutura precária, carga tributária excessivamente elevada, ambiente de negócios instável e produtividade da mão de obra muito baixa – o governo preferiu concentrar seus esforços em desvalorizar o real e conceder algumas isenções tributárias temporárias e concentradas em poucos subsetores. Em paralelo, agiu para reduzir as margens de lucro e a rentabilidade dos negócios em vários setores, como elétrico, financeiro, mineração e petrolífero. Empresários, preocupados, reduziram investimentos.

A forte concorrência chinesa tem sido uma realidade para a indústria brasileira e para toda a indústria global. Já passou da hora de nos prepararmos para outra competição, agora com a indústria americana.

Como alertei ainda em 2010, a crise dos países desenvolvidos é na essência causada por excesso de endividamento. Ela só pode ser resolvida com um forte aumento de poupança e diminuição do consumo por lá. Acontece que menos consumo levará a menos crescimento, mais desemprego e salários menores.

Este processo é exatamente o reverso da medalha do que está acontecendo no Brasil e nos países emergentes. Aqui, o crédito sobe, o desemprego cai e os salários aumentam, sustentando a expansão do consumo e ganhos socioeconômicos.

O único instrumento de estímulo macroeconômico que restou aos países ricos são doses cavalares de impressão de dinheiro, com a consequente desvalorização de suas moedas. Com salários menores e moedas desvalorizadas, a perda de participação na produção industrial mundial de todos os países desenvolvidos na última década será revertida em algum momento nos próximos anos.

Nos EUA, este momento já está chegando. Não bastassem o dólar em desvalorização há uma década e os salários em contração em termos reais há seis anos, ocorre uma revolução na produção de energia, que deve levar os EUA de maior importador mundial de petróleo a exportador ainda nesta década. Tudo isto está reduzindo substancialmente o custo de se produzir nos EUA e aumentando a competitividade da indústria americana.

Por outro lado, tão cedo o consumo dos americanos não retomará a pujança anterior à crise de 2008. Isto significa que os produtores americanos direcionarão partes crescentes do que é produzido lá para outros mercados, aumentando sua participação nas vendas para o resto do mundo, incluindo o Brasil. Os EUA voltarão a ofertar produtos de menor valor agregado e retomarão mercados há muito perdidos. Prepare-se para o retorno do Made in USA.

Pode demorar mais para sentirmos seus efeitos, mas processos similares estão acontecendo na Europa e no Japão. Em paralelo, o crescimento chinês migra gradualmente para mais consumo interno e serviços, reduzindo o ritmo de crescimento da demanda por nossos metais e minerais.

Com mais competição dos desenvolvidos e menor fome chinesa por nossas matérias primas, o Brasil precisa urgentemente fortalecer seu potencial produtivo, estimulando investimentos, melhorando a infraestrutura, reduzindo os impostos permanentemente e qualificando sua mão de obra. O modelo de crescimento baseado na expansão do consumo, adotado pelo Brasil nos últimos 10 anos, se esgotou. O fraco crescimento e a aceleração da inflação deixam isso claro. Não dá mais para postergar soluções. A hora de cuidarmos do Made in Brazil está passando.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Os ventos contra-alísios para a Zona Franca de Manaus





Por Ricardo Maia

Todos conhecemos, desde pequenos, que os ventos refrescam, que levavam adiante, em tempos remotos, as embarcações  descobrindo os novos mundos e as nascentes economias. Mas estes mesmos ventos sem controle as vezes incomodam e podem trazer grandes prejuízos, e sem avisar destroem implacavelmente qualquer lugar. Estes ventos ou ares não se veem, apenas sentimos quando eles chegam, a tempo ou tardiamente.

Vejamos os ventos alísios e os contra alísios: Os ventos alísios são responsáveis por transportar a umidade das zonas tropicais para a zona equatorial provocando chuvas nessa região. Enquanto que os ventos contra-alísios levam ar seco para as zonas tropicais, ficando, os maiores desertos da Terra justamente nessa zona, principalmente no hemisfério norte. Ventos contra-alísios começaram novamente a fluir contra o Norte, sobretudo contra a Zona Franca de Manaus. Mas com o risco de desertificar ou modificar o modelo?

Um estudo previamente publicado pelo Núcleo de Estudos do Senado, quer seja por encomenda ou não, foi produzido com uma afirmação técnica quase falaciosa dos intitulados pseudos-benefícios da ZFM bem como sua improvável geração de riqueza para a população, Estado e empresas. Este estudo, mesmo inconsistente, não pode ser descartado nem tampouco é obsoleto para uma reflexão sobre o modelo e sua atual eficácia.

Um provérbio chinês diz que:Sem a oposição do vento, a pipa não consegue subir”. Não fosse as mãos pesadas dos opositores do modelo Zona Franca de Manaus, que a cada oportunidade que têm usam de todas as ferramentas possíveis para diminuir e desestabilizar nosso modelo, não teríamos oportunidade de refletir e verificar que os tempos mudam, as coisas são dinâmicas e se transformam em busca da melhoria continua, afinal é por isso que se investe tanto em pesquisa e desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento.

Não deixemos de aproveitar esses “ventos” para refletir sobre o quanto precisamos repensar nosso modelo econômico, não deixemos para pensar depois na necessidade de dar a manutenção necessária e que essa manutenção possa irradiar esse desenvolvimento aos municípios, fomentando a vocação econômica de cada um. Esta estrutura econômica talvez seja uma muleta que já não suporta mais a ZFM.

Em 2012 o Amazonas foi responsável por 56,74% da arrecadação federal no Norte do Estado, quase 9 bilhões arrecadados contra 2,3 bilhões de transferências compulsórias, um exportador líquido de recursos para União na ordem de 6,4 bilhões anuais, e ainda assim dependemos recorrentemente das decisões federais para operar, gerando a mesma inquietação de sempre.

Como Dr.Jaime Benchimol já citou: “a Zona Franca não é um paraíso fiscal, mas um paraíso do fisco”. Não devemos apenas desmistificar nosso modelo econômico, mas ampliá-lo para outros polos como o Mineral, o Naval e o Pescado.

Precisamos manter o modelo, o que inclui o PIM, mas também utilizar melhor os bilhões de recursos recolhidos provenientes de tributos gerados pelas atividades do polo em modelos alternativos.

Temos tantos gargalos que precisam ser revistos urgentemente: Infraestrutura logística que emperra a produtividade e dinamismo do PIM. A biotecnológica, pois o CBA até hoje não tem autonomia jurídica para receber os investimentos necessários para gerar riqueza intelectual nas áreas de pesquisa. Na energia que terá de sobra, mas com sérias dificuldades na rede de distribuição. E, pasme, nas ruas do Distrito Industrial que padece pela falta de iluminação pública e pelos buracos que quase engolem as carretas e dificulta o transporte logístico e público. Na burocracia dos processos e na falta de recursos humanos das instituições, que desaceleram os processos de despachos nos portos e aeroportos, sem contar com os contingenciamentos orçamentários que a Suframa sofre.

Temos os ventos advindos da guerra dos outros estados que também lutam pelos seus quinhões, estes, a citar como exemplo São Paulo, maior interessado nesta discussão, que não se cansa de batalhar para derrubar nosso modelo e também não dorme pela ganância fiscal. Ao invés de São Paulo como referência, porque não fazemos também de nosso Estado um centro referencial de pesquisa e tecnologia?

Não deixemos para depois o que precisa e deve ser feito hoje, o que falta? Vontade política? Criatividade intelectual? Políticas sérias? Ou vamos continuar nessa inanição, nesse perjúrio?

Precisamos envolver toda a população, incutir nas mentes e corações os reais objetivos e a importância deste vultoso modelo econômico para que todos tenham o poder da crítica, pois a classe política atual  sempre vence há várias eleições com um discurso em defesa da Zona Franca, mas sem capacidade nenhuma em promover projetos econômicos relevantes levando em consideração as verdadeiras potencialidades. Quem ganha com essa dependência do modelo atual Zona Franca de Manaus? Empresários, classes políticas, instituições de pesquisa?